Você Tem Um Aluno Pagão na Sua Escola
Um Guia Para Educadores
Pelo menos um aluno seu tem uma religião com a qual você pode não estar familiarizado. Este material tem o intuito de trazer informações que você pode precisar para compreender as diferentes experiências de vida que esse aluno possa vir a compartilhar com vocês, e esclarecer algumas dúvidas que você possa ter.
Em que um aluno pagão acredita e o que ele pratica?
Por seguir tradições religiosas não dogmáticas, existe uma vasta gama de crenças dentro do paganismo. As mais comuns são a Wicca, o Druidismo, o Asatrú, e aqueles que se denominam simplesmente pagãos - do mesmo modo que um cristão pode ser católico, evangélicos, batistas, presbiterianos, ou simplesmente pessoas que se denominam cristãs. Cada um com suas crenças, mas todos com características em comum.
Graças a essa variedade, nem tudo que consta aqui será totalmente válido para todos os pagãos, mas engloba as características mais comuns, que podemos generalizar como pagãs. Seu aluno ou os pais dele explicarão se alguma de suas práticas for diferente destas.
Um aluno pagão pratica uma religião politeísta, baseada no culto a natureza
Um aluno pagão:
- vai honrar a Deusa e o Deus, ou Deusas e Deuses, como Divindade, às vezes com uma ênfase na face feminina da Divindade. Graças a isso, alunos pagãos buscam um tratamento de gênero igualitário, em todas as suas relações sociais;
- vai ter celebrações religiosas de acordo com fases da lua (principalmente a cheia) e o início e ápice das estações do ano, em grupos ou sozinho, ao invés de cultos semanais em grandes congregações. Essas celebrações são chamadas de: rituais, esbats, sabbats, entre outros nomes. Já os grupos de pagãos podem ser chamados de covens, groves ou círculos, de acordo com as diferentes tradições e práticas. Nessas celebrações e no cotidiano, alguns dos objetos encontrados no altar pagão são estátuas ou símbolos dos Deuses, velas, cristais, Bastão, Athame (também chamado de punhal, de uso ritualístico e sem fio, sendo um símbolo e não uma ferramenta de corte), Cálices, Caldeirão, incensos, e símbolos como a estrela de cinco pontas dentro de um círculo, chamada de Pentagrama ou Pentáculo.
- poderá utilizar símbolos religiosos como jóias: uma imagem de Deusa ou Deus, um nó céltico, luas crescentes ou cheias, o Olho de Hórus (símbolo egípcio), Labris (o machado de lâmina dupla, vindo do culto grego), Triskeles (espirais e triplas espirais), Mijollnir (o martelo de Thor), o Yin-Yang (símbolo do Tao), animais ligados a Deuses, como o lobo, o corvo, o dragão, e, o mais comum, o Pentagrama ou Pentáculo (uma estrela de cinco pontas dentro de um círculo). A confusão do pentagrama com algum tipo de símbolo satânico vem do uso que algumas pessoas fazem do pentagrama invertido¹ (assim como invertem a cruz cristã). O uso do pentagrama pelos pagãos está fundamentado nos gregos Pitagóricos, que usavam a estrela simbolizando sabedoria e equilíbrio, e dentro do círculo, ligando isso à idéia de eternidade e unidade.
- vai ver a Divindade como imanente na humanidade e na natureza, e verá todas as coisas conectadas umas às outras, o que normalmente desenvolve um interesse pela ecologia e pelo meio-ambiente, e uma fascinação pelos ciclos naturais.
- vai acreditar em magia, diferente da mágica dos truques ilusionistas. Isso inclui crer em conceitos como o de campos de energia pessoal, como o conceito chinês de chi, e também inclui o uso de rituais e ferramentas para dramatizar e gerar um foco de pensamento positivo, e técnicas de visualização. Isso não significa que o estudante pode mexer o nariz e limpar a sala, invocar espíritos ou demônios, ou fazer qualquer coisa que quebre as leis naturais, embora, como qualquer outra criança, ela possa acreditar que possa fazer essas coisas. Isso também não significa que o aluno aprende a enfeitiçar ou amaldiçoar; nossa estrutura ética acredita que as ações sempre retornam para quem as fez e, por isso, são proscritas.
- vai acreditar, na maioria das vezes, em reencarnação. Essa é a crença mais comum entre todas as vertentes do paganismo, mas não é universal. De todo modo, seu estudante pagão não acredita no conceito de Céu e Inferno; ele acredita em outros conceitos, como a Terra do Verão céltica – um lugar para descanso entre as encarnações, ou o Valhalla - o reino honrado das religiões do norte da Europa, entre outros.
- pode chamar a si mesmo Bruxo, Wiccaniano, Pagão, Neo-Pagão, Adorador da Deusa, Asatrú, Druida, entre outras definições. Palavras de conotação mais negativa, como feiticeiro ou macumbeiro, não são bem aceitas, devido ao preconceito implícito nelas. E, embora ele possa ou não se ofender com os estereótipos, ele provavelmente se apressará em dizer que as figuras de pele verde, nariz longo e curvo, caricatas de Halloween ou livros de histórias, não se parecem com ele ou com sua família.
Um aluno pagão é educado em uma ética que enfatiza tanto a liberdade pessoal como a responsabilidade pessoal.
A ética pagã permite uma grande liberdade pessoal sempre aliada a uma forte responsabilidade pessoal. A base primária para a ética pagã é a compreensão de que tudo está conectado, que tudo o que fazemos afeta os outros, e que toda ação tem uma conseqüência. Não existe o conceito do perdão dos pecados no nosso sistema ético: as conseqüências de uma ação devem ser encaradas, e é necessário que haja uma reparação em relação a todos que foram prejudicados.
Não existem regras arbitrárias quanto a questões morais; ao invés disso, cada ação deve ser pesada em relação ao dano que poderia causar a alguém. Assim, por exemplo, a homossexualidade consensual não tem nenhum peso moral negativo, porque não prejudica ninguém, mas fazer 'brincadeiras' com as características dos outros (como o bullying²) é considerado muito errado, porque prejudica a integridade e a auto-estima daquele que está sendo vítima da 'brincadeira'.
Um bom exemplo de como essas regras éticas são entendidas é a Lei Tríplice da Wicca que diz: 'tudo que fizer voltará para você três vezes.'
Um aluno pagão abraça o paradigma da diversidade.
Como as religiões pagãs se enxergam como um caminho entre muitos, e não o único caminho para a verdade, e porque pagãos enxergam uma variedade de divindades em seus panteões, tanto masculinas quanto femininas, os pequenos pagãos crescem em uma atmosfera que desencoraja a discriminação de raça ou gênero, por exemplo, e incentiva a individualidade, a auto-descoberta, e o pensamento independente.
Também é provável que ele tenha aprendido religião comparada; a maioria dos pagãos tem como atitude não forçar suas crenças na criança, mas ensiná-las e apresentá-las também a outras crenças religiosas, permitindo que decidam quando tiverem idade para tal. Entretanto, um aluno pagão provavelmente não terá um conceito emocional de Céu e Inferno, ou salvação na visão cristã, embora ele conheça a respeito de um modo teórico. E um aluno pagão aprenderá a respeitar os textos sagrados de outras religiões, mas é improvável que acredite neles ao conflitarem com os conceitos científicos ou ao se colocam como a única verdade.
É provável que um aluno pagão goste de leitura, ciências e profissões humanistas
Margot Adler, jornalista, publicou na edição de 1989 de seu livro Drawing Down the Moon, os resultados de uma pesquisa* sobre os Pagãos. Esses resultados mostraram que uma das coisas que os pagãos têm em comum, apesar de suas diferenças, é um voraz apetite pela leitura e pelo aprendizado. Pagãos também estão muito representados na área de informática e de cuidados com a saúde. Crianças pagãs tendem a ter familiaridade com computadores desde cedo.
Apesar de suas crenças serem muitas vezes incompreendidas, as religiões voltadas para a terra têm crescido nas últimas décadas e geram grande satisfação espiritual em seus praticantes. Com a atual corrente de apreciação da diversidade e tolerância, mais pessoas compreendem agora que as diferenças entre raízes culturais trazem perspectivas que devem ser valorizadas e não temidas.
Nossa esperança como educadores é que este material lhe forneça informações para que você possa compreender melhor seus alunos pagãos.
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* pesquisa feita nos Estados Unidos, mas com resultados provavelmente próximos da nossa realidade. (voltar)
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Texto original: “You Have A Pagan Student In Your School - A Guide For Educators”
©1998 Cecylyna Dewr
Tradução/adaptação: Sarah Helena 'Filhote de Lua'.
Revisão/adaptação: Fernanda Rocha
Para mais informações, visite http://www.paganpride.org/
Obs.: A versão traduzida, sem minha revisão, pode ser encontrada no seguinte endereço eletrônico: http://www.magiadasbrumas.com.br/paga-familia/manual-para-professores.htm